terça-feira, 20 de agosto de 2013

Aline

Você me pergunta se estou bem. Sim, estou, respondo. O seu olhar me olha. E o meu também. Se passaram dez anos. Ouço a sua voz. Sim, dez anos, confirmo. Era muito bom aquele tempo. Todos os tempos são bons; em alguns, nós que não sabemos aproveitá-lo, falei. Concordo, disse ela, e acrescentou dizendo que a vida passa muito rápido. Depende, disse com um olhar questionador. Nossa! Lembro cada momento que vivemos juntos. A gente se amava tanto, né, Edgar? Talvez sim, talvez não, Aline, nem sempre vivemos o mesmo amor. É, concordo, disse ela.

Mas você está bem, Edgar? Sim, estou, Aline. E ela me olhou mais uma vez. Seus olhos sorriam para mim e seu semblante parecia a pétala de uma flor quando cai na água. É, talvez ninguém nunca tenha observado isso, pensei, ali diante dela. Dez anos se passaram quase sem serem percebidos. E ela insistia em perguntar se eu estava bem. Nem eu mesmo sabia se estava. Mas respondia que sim. Dela, acho que só guardei o nome. Amava o nome dela. Soava doce aos meus ouvidos. Às vezes eu até repetia: Aline.

Ali, diante de mim ela estava. Vinte e oito anos. E eu, trinta e dois. Há dez anos fomos completamente apaixonados. Brincávamos como crianças. E éramos. Sendo sincero, menti ao falar que só guardei o nome dela. Não! Sempre tive a imagem dela muito forte em minha imaginação; inclusive o cheiro do seu corpo que me fazia tão bem. Lembro até a primeira vez que fizemos amor, foi tão inusitado. Ficamos com vergonha de ficarmos nus. Mas tudo aconteceu com muito carinho e, claro, amor!

Edgar, preciso ir, o voo se aproxima. Já?, perguntei. Sim, disse ela. Abraçou-me. Senti seu cheiro adentrando minhas narinas e o seu corpo junto ao meu. Saudades, Aline, falei. Seria muito bom se você fosse conhecer minha família, tenho uma filha e um esposo bem simpático, disse ela. Abri um ar de risos, e nada respondi. Confesso que senti um pouco de ciúmes ao ouvir.

E ali no corredor do aeroporto, falei comigo mesmo: o importante é que estamos bem. Triste de quem deixa a vida passar. Nós vivemos bem, e é por isso que sentimos saudades.

Aline... este nome é tão doce, falei comigo mesmo no silêncio de quem observa a pessoa amada partir...

Adenildo Lima

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