quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

As interfaces da vida

Mariana se encontrava naquele momento sozinha, num lugar diferente. Tinha viajado para descansar um pouco da rotina da vida. Rotina. Sim, pois a palavra principal aqui talvez seja essa.

Ana trabalhava numa grande empresa. Trabalhava além dos limites desejados pelo corpo. Era sugada: tinha hora para entrar, mas não tinha hora para sair. Mari era o retrato vivo da escravidão pós-moderna. Era preciso ser várias para corresponder às exigências da empresa.

Naquele momento ela se encontrava no paraíso. O lugar era calmo, tinha uma paz desejada por todos que prezam o degustar de cada segundo vivido. A vida de Mariana estava sendo consumida aos poucos e muito depressa.

Em casa, com o seu esposo, os olhares não se beijavam mais, os corpos não se sentiam mais, apenas se entrelaçavam; e o diálogo era algo ausente. Ana sentia vontade de viver. Sentia vontade de se olhar no espelho e ter prazer diante de si mesma. Mari sonhava também em ser amada.

 Há muito tempo Ana não saboreava a vida como antes. A correria do tempo tinha roubado as leituras dos seus livros, tinha tirado dela os momentos sagrados de viver a poesia. E a vida sem poesia é um vazio que não diferencia muito da vida de um animal qualquer. E Mari sabia disso.

Ali, naquele lugar calmo ela refletia. Sentia o mundo vindo ao seu encontro, abraçando-a. Lembrou da época que se casou, diante das juras de amor, aquelas: que seria amada eternamente. Nada disso era realidade para ela. Descobriu que depois de alguns anos até mesmo o ato sagrado de amor em que duas almas se abraçam para viver o momento íntimo de dois corpos unidos em um, sendo puro prazer, não existia mais, tudo era feito como algo que deveria ser feito. E só!

Mara estava cansada. Desejava ter o seu corpo beijado, amado, vivido harmoniosamente. Ana se sentia só. Mari se sentia ausente do próprio eu. Mariana queria beijar os lábios de alguém e também se sentir beijada. Ela, ali, tinha descoberto que precisava viver, pois a vida sem poesia é um vazio que não diferencia muito da existência de um animal qualquer.

Adenildo Lima

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