segunda-feira, 7 de abril de 2014

Uma lágrima, um mendigo e dois cachorros

Amigo leitor e amiga leitora, deixo este aviso: todo este texto discorrerá sob as lágrimas de Natali Velásquez.

Lágrimas parecem água, mas não são. Por detrás existe todo um sentimento que move a existência daquela pessoa. Agora até que ponto elas são boas ou ruins, tão pouco sabemos.

Natali não é brasileira. Mas sempre que pode visita o Brasil. Ela é de um país europeu. O nome desse país? Tão pouco interessa. Ela é jovem, cheia de vida. E carrega no próprio olhar a sensibilidade da mulher que ama em pleno século 21.

Palavra essa que sempre deixa um questionamento para todos: o que é o amor?

É uma tarde de sexta-feira, Natali sai com alguns amigos e amigas para saborear o final do dia que, aos poucos, abraça a noite entre palavras degustadas num gole de cerveja. A vida, como sabemos, ou talvez poucos saibam, é uma corrida para um lugar que nunca sabemos se vamos chegar ou se tem algum ponto de chegada.

O ser humano, talvez o único Ser que luta para ser feliz, e por isso tão poucos o são, confunde, na maioria das vezes, felicidade com sentimentalismo, e esquece que o simples ato da felicidade se encontra em poder estar bem.

Natali olha uma cena qualquer, que infelizmente é natural na cidade de São Paulo, e nas muitas cidades do mundo: alguém lutando para defender o que lhe transmite felicidade. Quanto vale um mendigo no capitalismo esdrúxulo, no sentido mais devorador possível, que divide o seu único momento de felicidade com um ou com dois cães nas calçadas das metrópoles?

Por outro lado, pergunta esse narrador: quanto vale os cães que vivem com aquele mendigo?

Uma lágrima cai. Duas lágrimas caem. Três, quatro, cinco lágrimas caem. O rosto de Natali encontra-se fanado pelas lágrimas que acariciam sua face. O homem, sim, o homem, pois este narrador sempre enxerga alma nos corpos humanos que perambulam pela cidade; o homem grita na cara de uma mulher que tenta tirar dele os cães.

“Vocês estão invadindo o meu espaço”. E não podemos esquecer que o espaço é público, pois ele tem direito. “Vocês estão tirando a minha felicidade”. “Vocês não respeitam a felicidade do outro”. “Que seres são vocês?”. E ele continua lutando pela sobrevivência. Lutando pela felicidade compartilhada com os únicos seres vivos que dão sentido a sua existência. Mas alguém muito bom tenta tirar os cachorros dali para que eles não sofram. Lembre-se, este narrador diz, tirar os cachorros. O mendigo quanto vale? E os cães quanto valem?

Os dois cachorros encostam-se à parede e, assustados, observam todo o acontecimento.

 E Natali chora e chora e chora...

Só não se sabe se suas lágrimas foram derramadas pelos cães ou pelo ser humano, ali, abandonado, jogado na calçada, sem moradia, sem comida e sendo ameaçado de perder seu único sentido de vida: a companhia de seus dois amigos cães.

Pois é, amigo leitor e amiga leitora, quanto vale o ser humano hoje diante de um cão?

Adenildo Lima

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